Geeks, Nerds e pessoas inteligentes em geral trabalham não só pelo dinheiro, mas pelo amor ao que fazem. Eu sou uma dessas pessoas que amam loucamente seu trabalho. Quando eu sou contratada por uma empresa, eu não vou para lá simplesmente pelo dinheiro, eu quero fazer algo produtivo, algo de bom, quero fazer a diferença - e por isso eu nunca prestei concurso público, já que o perfil do funcionalismo público costuma ser bem diferente disso. Eu amo meus empregos e me orgulho disso.
Agora, vamos ao que interessa: muitas empresas não valorizam o amor que nós, nerds, podemos oferecer ao nosso trabalho. Amar o trabalho não é bater cartão de ponto e trabalhar mecanicamente. Para isso, existem alguns fatores que precisam ser observados.
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Nunca, NUNCA, obrigue um geek a cumprir horário de cartão de ponto se não for REALMENTE necessário. Não adianta nada fazê-lo chegar às 7 da manhã para trabalhar sem inspiração e motivação até as dez, quando ele realmente estará desperto, porque é uma “regra da empresa” o horário comercial, quando ele poderia chegar feliz e satisfeito às dez e sair às oito, e produzir muito, muito mais. Todos nós somos perfeitamente capazes de chegar no horário solicitado, mas posso assegurar que ninguém gosta. As exceções só se aplicam, claro, às pessoas que trabalham em turnos. Aí não tem saída mesmo.
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O local de trabalho. Se existem mesas disponíveis, deixe-o escolher a que mais lhe agradar. Se ele sentou num cantinho isolado virado para a parede, não reclame que ele está “isolado demais da equipe” - afinal, ele precisa de privacidade para se concentrar nos problemas que irá resolver. É recomendável, se você tem uma equipe com um número considerável de nerds, manter um sofazinho para que eles possam eventualmente relaxar. Não há mal nenhum nisso. Especialmente quando eles ficarem até de madrugada trabalhando - eles gostam de desafios, não os obrigue a largar um problema pela metade porque “está tarde”.
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Luz e temperatura ambientes devem ser controladas de maneira razoável e de acordo com a equipe da sala- claro que não estamos questionando o frio necessário dos datacenters. Eu normalmente acho muito claros os ambientes onde eu trabalho, mas não vejo muita solução para isso - é impossível agradar todo mundo. O ideal é fazer algo que não pareça a luz do sol de verão nem fique escuro, e manter a temperatura por volta de uns 22 graus.
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Como dizia a Björk, “My headphones, they saved my life“. Nós precisamos ouvir música para trabalhar. Já vi casos em que o computador oferecido para o trabalho não suportava tocar mp3, o que, nos dias de hoje, é totalmente bizarro. Mas tudo bem, nós temos mp3 players, é só nos deixar usá-los em paz quando estivermos precisando de concentração. Eles salvam nossa vida.
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A roupa. Gostamos muito de camisetas com dizeres engraçadinhos estilo thinkgeek + jeans, ou saias, para as meninas. Tenho uma coleção enorme de camisetas temáticas. Eu acabo me vestindo mais socialmente que isso porque gosto muito de saltos muito altos. Então, não precisamos nem de ternos / tailleurs ou uniformes. Ternos/ tailleurs nos deixam com cara de advogados, e uniformes, bem, com cara de qualquer outra coisa, office-boy da empresa, talvez. Tiram nosso bom humor. Não precisamos disso. Nós saímos da escola, já sabemos nos vestir, e não somos homens/mulheres de negócios.
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Festas da empresa. Não as faça obrigatórias, muitos nerds são assim chamados por não serem pessoas com social skills. São excelentes profissionais, mas odeiam conversar sobre a novela das 8 com a mulher do chefe - conheço muita gente assim. Não obrigue-os. Agora, você pode seduzi-los facilmente realizando no evento um campeonato de Nintendo Wii. Difícil resistir.
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Use e-mail e instant messenger. Bem melhor que interrompê-lo e cutucá-lo para dizer “já fez o que te pedi?”, “posso falar com você agora?”. Interrupções são HORRÍVEIS. ABSOLUTAMENTE HORRÍVEIS. Tiram o foco, que é muito, muito importante para seu trabalho. Mande um e-mail, ou mensagem pelo seu IM favorito. Leremos quando pudermos, e melhor, ficará tudo registrado em um histórico ou em nossa caixa postal. Ao contrário do que imaginam, instant messengers não atrapalham, só lemos quando não estamos com o foco na janelinha piscante (mais sobre isso lá embaixo). Lembre-se do aviso do ônibus: “Fale somente o necessário” - o resto, escreva.
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Você contratou um funcionário de TI. Você espera que ele faça trabalho de TI. Não o submeta a trabalhos exóticos, como ir ali na rua comprar lanche para o chefe, entregar papéis para um cliente (office-boys existem para isso), fazer cobrança (o departamento de cobrança existe, não?), entre outros trabalhos não-relacionados. Não me entendam mal: nós gostamos de “novos desafios”, mas DESDE QUE SEJAM NA NOSSA ÁREA. Adoraria que me colocassem para consertar um AIX - não é o meu trabalho, mas eu ia me virar para fazer, é um novo desafio. Mas comprar lanche… Não.
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Bebidas. Trabalhamos muito, portanto, precisamos de líquidos. Não bebemos SÓ café. Eu, por exemplo, não bebo café. É legal disponibilizar café, agua quente, e aquela maletinha simpática da Leão com diversos chás. Não sou só eu que bebo litros de chá - muita gente bebe. E, obviamente, água. Se na empresa houver espaço, garanto que uma máquina de refrigerante fará sucesso e trará lucro.
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Acesso à internet liberado é importante para a nossa produtividade. Sabemos métodos para burlar todo os tipos de bloqueio - afinal, nos contrataram porque entendemos do assunto. O problema é que ficamos irritados e aborrecidos, o que nos afeta diretamente. Não confiam em nós, que dedicamos tanto de nossa vida ao trabalho. Se existem funcionários que abusam do acesso, eles devem ser punidos. Reprimir quem não fez nada errado por causa de meia dúzia de pessoas que não querem trabalhar é que é um abuso. Revejam suas políticas. Quem quer conversar no horário de trabalho, vai dar um jeito de fazê-lo, seja por MSN ou ao vivo.
Isso foi reescrito a partir deste texto aqui, porém acrescido de algumas coisas e alterado em algumas partes. Espero que sirva pelo menos como inspiração para Gerentes de TI, para que compreendam melhor suas equipes. Este é o mundo ideal para nós, e, como mundo ideal, é uma utopia (alguém que trabalha no Google, eleita a melhor empresa do mundo para se trabalhar, pode dizer se lá preenche esses requisitos?), mas já trabalhei em lugares onde quase nada disso era respeitado, e também no extremo oposto. Podemos ser razoavelmente felizes, ao que parece. Não é difícil, convenhamos.