[quote=sergiotaborda]
Existe uma diferença entre o que deveria ser e o que é. Essa diferença advém de motivos culturais , educacionais, econômicos e profissionais.
A definição abstrata de programador é uma pessoa que é eximia em escrever código. Essa é a sua especialidade. Esta pessoa escreve código como quem escreve um livro. Quanquer um sabe escrever, mas escrever um livro é preciso talento. É preciso cuidado com detalhes de forma e estilo. É preciso escolher as palavras com cuidado porque embora sinónimos, nenhuma palavra é igual à outra. Ha nuances. Um programador sabe todas as nuances da linaugem que usa. Sabe toda a API de cor , sabe manipulá-la à sua vontade como o escrito manipula as palavras. Trata Threads por tu e consegue ver nos arquivos estáticos de código o funcionamento dinâmico do sistema. Sabe boas práticas de escrita. Escolher bons nomes. Organiza o código de forma tipograficamente correta. Um código escrito bem vale mais que mil palavras.
Mas para alcançar este nivel e poder se designar “programador” a pessoa que que evoluir muito. Então, como existem pessoas que sabem escrever e existem autores, existem programadores que escrevem e programadores que sabem escrever. E entenda que o talento do programador não é saber porque a classe X e Y existem ,ou qual é o seu papel para o usuário. Descobrir essas coisas não é o seu papel. Seu papel é simplesmente traduzir esses conceitos em código da forma mais fidedigna possível. Então, neste sentido ele é um escriba sem pretensão de conhecer do negócio ou tomar decisões de arquitetura, escolher frameworks , etc… seu único propósito é escrever bom código.
Muitas poucas pessoas são “autores de código” no nível que deveriam. Isso é uma pena. E isso advém desse preconceito contra quem é “só programador”. Não ha nada de errado em ser “só programador”, desde que seja um programador de verdade.
Então o que temos são muitas pessoas que sabem escrever e poucos autores. E ai se banaliza dizendo que se qualquer um pode escrever, então é uma função menor. Nos ultimos anos temos vindo a assistir a movimentos contra isso e em favor de escrever bom código. Mas ainda existem mutias pessoas em pontos do fluxo ( como os professores) que não estão nessa onda e ainda pensam como pessoas nos anos 50 ( talvez porque nasceram nos anos 50)
Por outro lado, um escrito de código meia boca, também não pode achar que é o salvador da pátria só que porque ele escreve um código mixuruca e faz o sistema funcionar. Ele é responsável pela maior parte do trabalho “físico”, mas ignoar sua responsabilidade na equipe é um erro fatal. O peão só é peão porque se contenta com isso. Mas peões ha muitos e um jogador experiente não tem medo se realizar o gambito do peão.
Profissionalmente as pessoas não enxergam que é necessário bons programadores autores da mesma forma que não enxergam que são necessários bons pedreiros. Acham que é só por um bom capataz (aka lider de equipe) e pronto. Isto é mau gerenciamento. É gerenciamento meia boca, porque também os gerentes que temos são como os programadores : meia boca. E assim vai até os diretores. É uma questão de cultura. Vc vai ver em outros lugares do mundo e as pessoas pensam diferente. Não se acomodam com a mediocridade. Aqui, nem sabem que são mediocres e ainda se acham os super-master.
Tudo isso começa na faculdade, nos professores que são muito acadêmicos sem experiencia real em sistemas reais. até os gerentes que - ironicamente - não têm fundamento académico para as decisões que tomam. No mundo real do dia a dia, parece que nunca ninguém leu um livro sobre gerencia de equipes de software (que é diferente de outros tipos de equipes), ninguem sabe o que é um cone de incerteza ou que quanto mais pessoas num projeto pior. Coisas simples. Claras. Que todos sabem, mas ninguém assume.
É como se a empresa mandasse escrever sua autobiografia e escolhe o primo do sobrinho do padrão porque ele tem jeito com o word. Escrever uma biografia é muito mais complexo que isso. Então, pessoas que pensam pequeno (porque não foram educadas de outra forma e sequer conhecem o mundo ) têm a ajuda de pessoas pequenas. E o engraçado é que eles são felizes assim. Até que o livro sai e ninguem gosta e ninguem compra e a culpa é do cara que escreveu e não do cara que o contratou.
Então, se está indignado em que se associe o programador ao peão, o jeito é ser um excelente programador, um autor de código, treinar seus pares para serem o mesmo, e talvez um dia, haja respeito. Porque antes de pedirmos respeito da sociedade, temos que ganhar respeito dentro da nossa própria profissão. E hoje tem muito gentio sem os valores necessários para trabalhar com software.[/quote]
Que comentário fantástico!!!
Só acrescento ao que você disse, e é o que mais me deixa indignado, é que muitas vezes, na maioria, a opção por um programador-peão acontecer por questões financeiras. Pra economizar com mão de obra. Então traz-se um analista (normalmente um ex-programador “promovido”) e um exército de programadores a preço de banana.
O que me irrita não é chamar programador de peão, porque programadores-peões realmente existem, o que me irrita é ainda se achar que eles servem para alguma coisa. É achar que pessoas que se limitam a pegar uma especificação sem questionar e escrever código com aquilo é capaz de construir um software aceitável, pelo menos. Não é.
Irritante é um analista de sistemas colocar-se num pedestal e achar que ele tem o direito de não programar. E a junção dessas duas caricaturas do mercado resulta em softwares com a qualidade que conhecemos.